Conto
todo sonho começa pelo meio
A areia sob meus pés afunda enquanto ando pela praia. Não sei onde estou indo, mas sei que não estou perdido. À minha direita enxergo prédios, a cidade. Eu não me lembro de estar lá, mas sei que estava. À minha esquerda o mar. A maré ainda está baixa e a praia vazia, exceto por mim. Eu continuo andando descalço enquanto ouço as ondas quebrarem. As partículas de areia deslizam para os lados, cedendo sob a pressão das minhas pernas. Elas arranham de leve minha pele. Uma onda inesperadamente avança mais do que as outras e chega a mim, apenas um filete de água molha a sola do meu pé e volta para o mar. Num movimento de retração, e depois segue a expansão, retrai, expande. A praia é curta, fica numa pequena baía, de cada lado istmos rochosos. À minha frente, ao fundo, vejo a ponta de um desses istmos que se projeta do continente quase um quilômetro em direção ao mar, sempre subindo. Vejo a ponta dele, uma formação de grandes rochas. Para chegar até lá há um trecho de floresta, sei que existe uma trilha que me levará até o istmo, nunca fui, mas sei que há.
Meu pé afunda na areia uma última vez, barulho de atrito, e agora estou na pedra. Na ponta do istmo.